Artigo | 6 Setembro, 2012 - 15:25
Afinal, 80% do código genético, antes tido como “lixo”, inclui quatro
milhões de “interruptores”, responsáveis por determinar quando e onde os genes
são ligados ou desligados. Descoberta tem enorme importância para a
investigação do tratamento de doenças como o cancro.
Já há quem chame de
Segunda Revolução Genética ao conjunto de descobertas divulgado na última
quarta-feira pelo projeto ENCODE, que envolveu 442 cientistas de 32
laboratórios em todo o mundo.
A sua principal
conclusão: 80% do código genético antes conhecido como DNA lixo, tem, afinal,
um papel importante no desenvolvimento e na manutenção do corpo humano. Em vez
de lixo, os cientistas identificaram quatro milhões de
"interruptores", responsáveis por determinar quando e onde os genes
são ligados ou desligados, conforme o tipo de célula.
É um novo mundo que se
abre para a compreensão da biologia humana. Muitos dos interruptores
identificados estão ligados a mudanças genéticas que podem causar doenças
cardíacas, diabetes, esclerose múltipla, lúpus, artrite reumatóide e tantas
outras doenças.
"Essa descoberta
dá aos pesquisadores um novo mundo a ser explorado e, em última instância, vai
levar a novos tratamentos", disse o dr. Ewan Birney, do Instituto de
Bioinformática em Cambridge à BBC.
Outros cientistas,
como Eric Lander, presidente do Broad Institute, usaram a metáfora do Google
Maps para explicar o alcance do que foi anunciado. A investigação anterior, que
determinou a sequência inteira do DNA humano, “era como uma fotografia da Terra
tirada do espaço”. Por ela, não era possível “dizer onde estavam as estradas,
como estava o trânsito a certa hora do dia”, nem “onde estão os bons
restaurantes, ou os hospitais, as cidades ou os rios”. Agora já se pode.
As descobertas foram
publicadas quarta-feira em seis papers na revista Nature e em 24 papers
no Genome Research e Genome Biology. Além disso, The Journal of
Biological Chemistry publica seis artigos de resenha, e a Science um
outro artigo.
Ligar ou desligar
interruptores
Nos estudos realizados
na última década, os cientistas descobriram que minúsculas alterações nas
sequências do DNA humano aumentavam o risco de que uma pessoa desenvolvesse
determinada doença. Mas as alterações ocorriam no chamado “lixo”, a que também
se chamou matéria negra. Não ocorriam nos genes, e por isso o seu significado
não era claro. O que se descobriu agora é que as alterações afinal ocorrem nos
interruptores dos genes, e por isso são tão importantes.
As consequências
práticas destas descobertas estão a entusiasmar os cientistas. O dr. Mark
Rubin, investigador da genómica do cancro da próstata do Weill Cornell Medical
College, disse ao The New York Times que as descobertas terão enorme
importância para a investigação médica sobre o cancro.
No cancro da próstata,
por exemplo, havia mutações que ocorriam em genes importantes e que não se
conseguiam combater facilmente com drogas. Com as novas descobertas, passa a
haver uma nova forma de atacá-las: ter como alvo os “interruptores” de
controlo.
“Agora podemos seguir
as estradas e ver como está o trânsito”, explicou Mark Rubin. “Temos agora um
mapa que nos permite encontrar caminhos alternativos para perseguir os genes do
cancro”, explicou.
O que é o ENCODE
É um consórcio público
de investigação lançado pelo Instituto Nacional de Investigação
do Genoma Humano (National Human Genome Research Institute) em
setembro de 2003. Este instituto pertence aos Institutos Nacionais de Saúde dos
Estados Unidos, mas o consórcio engloba 32 laboratórios dos EUA, Reino Unido,
Espanha, Japão e Singapura. Trabalharam nesta investigação 442 investigadores.
O nome ENCODE vem de Enciclopédia dos Elementos do DNA. O seu objetivo é
identificar todos os elementos funcionais na sequência do genoma humano.
Em 2007 foram
apresentados os resultados do projeto-piloto, que estudou apenas 1% do genoma
humano. Cinco anos depois, o consórcio publica a informação sobre todo o genoma
http://www.esquerda.net/artigo/novas-descobertas-abrem-segunda-revolu%C3%A7%C3%A3o-gen%C3%A9tica/24503
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